Em 31 de outubro de 2024, comemora-se os 507 anos da Reforma Protestante. A data é claramente um marco arbitrário – a fixação das 95 teses de Lutero na porta da Igreja de Wittemberg em 1517. No entanto, cabe aqui considerar a seguinte questão: A REFORMA PASSOU, MAS DEIXOU UM LEGADO PRECIOSO PARA SER ADMINISTRADO CORRETAMENTE. O desafio, portante, é discernir como fazer isso nos dias de hoje.
1. Todo reavivamento passa, até o mais poderoso de todos passou – Ninguém deve ficar ofendido ao ouvir uma declaração dessa natureza. A teologia bíblica ensina amplamente que o vigor espiritual da Igreja, tanto o AT quanto no NT, não se mantém estável no mesmo nível ao longo da história. Pelo contrário, há variações significativas para mais e para menos. Essa é a razão da ocorrência de reavivamentos – a Igreja está como um vale de ossos secos e o Espírito do Senhor sopra sobre ela (Ez 37). O Pentecostes passou e a Igreja já estava completamente desfigurada quando Constantino aboliu a perseguição sobre a fé cristã em 313 d.C. com o Edito de Milão. O vigor espiritual da Reforma Protestante também arrefeceu e no século seguinte surgiram dois movimentos revitalizadores – Pietismo alemão e o Puritanismo Inglês. O desafio é administrar novamente o estado ordinário com a mesma fidelidade quando o extraordinário passa. Essa é a luta atual.
2. Todo legado precioso pode ser bem ou mal administrado – Esse é um alerta vigoroso para aqueles que se reconhecem Herdeiro da Reforma. Um senso constatnte de autocrítica deve ser conscientemente cultivado, até porque a essência e o lema do movimento protestante defenderam isso: "Igreja Reformada, sempre se reformando". Isso não signifcia implementar descobertas inéditas, mas fazer revisões periódicas para corrigir desvios e voltar aos padrões originais incansavelmente. Alguns alertas. Primeiro, como a Reforma foi um movimento plural, privilegie o consenso e não a excentricidade. A espiritualidade que cultiva o estranho para se afirmar como superior não é a melhor opção. A Reforma oferece um exemplo instrutivo quanto a isso – os anabatistas, em muitos aspectos, seguiram um caminho excêntrico e se distanciaram do chamado pelotão dos reformadores magisteriais e não devem ser imitados nos dias atuais. Inevitavelmente caíram em algumas armadilhas, pagaram um altíssimo preço por defenderam posições consideradas biblicamente insustentáveis e ficaram com a pecha de "reformadores radicais". Segundo, não cultue doutrinas e muito menos heróis porque fazer isso é trair a memória dos reformadores. Eles não foram inerrantes [um atributo exclusivo das Escrituras] e devem ser considerados como homens falíveis. O legalismo doutrinário frequentemente redunda em esterilidade espiritual. Lembre-se sempre que "os maiores santos têm os pés de barro". Terceiro, toda reforma espiritual autêntica é algo radicalmente diferente de cisma religioso. Lutero jamais sonhou em dividir a Igreja; ele não rompeu com a doutrina cristã apostólica, pelo contrário, reafirmou-a; ele não insultou as autoridades da Igreja ao denunciá-las, mas afixou as 95 teses convidando-as ao debate; ele não desrespeitou as normas eclesiásticas, mas compareceu à Dieta de Worms para se defender e afirmar suas crenças. Reformado que nega a fé calvinista, desrespeitas as ordens da Igreja, promove cisma ou dá apoio a cismáticos e se comporta de forma insolente para com as autoridades eclesiásticas ou civis, com mil perdões, precisa rever seus conceitos histórico-doutrinários e revisar sua conduta.
· Você se considera um Herdeiro da Reforma? Há algum princípio doutrinário com qual você ainda se debate? Você tem orado para que um novo sopro do Espírito venha sobre a Igreja atual?
"Oh! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença, como quando o fogo inflama os gravetos, como quando faz ferver as águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que as nações tremessem da tua presença! (Isaías 64.1,2)